
Tem sido um estudo a partir do livro “The ethics of Authenticity” de Charles Taylor em um período privilegiado de estudos nos Estados Unidos que me provocou a escrever sobre questionamentos antigos e sempre novos àqueles e aquelas que ainda ousam pensar, meditar, partilhar reflexões acerca da vida e dos rumos que ela tem tomado.
Taylor apresenta em sua obra uma tríade de preocupações as quais a humanidade hoje se encontra acometida: o individualismo, o desencanto para com o mundo, oriundo da primazia da razão instrumental e os infortúnios da liberdade mal interpretada.
O filósofo contemporâneo apresenta em sua obra, problemas da ruptura do ser humano com sua própria essência, da capacidade de discernimento dos princípios sociais e morais que determinam sua relação com o mundo e com a subjetividade.
O ser humano contemporâneo é um sujeito social amparado por sistemas legais e instituições, ditas democráticas, e, ao contrário de seus antepassados se encontra liberto de qualquer ligação extra-mundana de códigos ou normas morais sagradas. É o sujeito por si mesmo quem decide agora seu estilo de vida e as convicções que por ventura irá aderir.
Em um trecho muito interessante da obra Taylor este afirma que o ser humano frente a moderna “liberdade” perdeu sua paixão pela vida, pela dimensão heróica do existir em nome de um propósito superior.
E ele segue em sua reflexão acerca da razão instrumental e das conseqüências do individualismo e do custo benefício na vida das pessoas desta sociedade atual, regida pela distorcida compreensão de liberdade apresentando no cerne de seu livro a proposta de uma ética da autenticidade.
Sem deixar o sabor de uma obra na íntegra esvair-se na breve partilha deste artigo, insisto agora no caminho aberto pelo filósofo na possibilidade de sua tese acerca da autenticidade no agir ético. O ideal da autenticidade para Taylor é válido cada vez mais para nossos dias, é necessário para libertar o ser humano do extremismo da subjetividade e encontrar novamente seu lugar no mundo levando adiante o seu legado na continuidade da história.
Lendo Taylor e refletindo seriamente sobre a tríade de preocupações que regem a sociedade atual, resultante de um longo e irreversível processo, desenvolvimento capitalista, berço do egocentrismo e do niilismo da desesperança humano-solidária, sou provocada cotidianamente ao seguinte questionamento: o que ao longo de nossa efêmera humana trajetória nos conduz, ainda, ao bom, ao ético, ao politicamente correto? O que justifica nossas ações, atitudes, de modo que possamos revelar valores sem a necessidade de nos agarrarmos em confusas ou já desacreditadas justificações transcendentes?
Por que incontáveis vezes, nesta mesma trajetória, religiosos ou não religiosos, crentes ou supostos ateus, sucumbimos, nem que seja por breves instantes na solitária dimensão de nossos seres nos deixando acorrentar pela minimização do bem, ou pior, pela alienação de seu verdadeiro sentido?
Percebo ainda, enquanto parte desta realidade cuja natureza possibilitou desenvolver-se e existir, do quanto argumentamos, apresentando como respostas ao questionamento acima, inúmeras vezes, tolas desculpas: ou religiosas acerca de nossa dimensão pecadora dominante ou de nossa frágil condição de ser humano natural, sedento de poder, de amorosidade, de aceitação?
E assim prosseguimos no córrego da história desta civilização arrastando correntes, aprisionados por fatores aos quais nos deixamos condicionar, convencer, acorrentar, rumo à um futuro próximo de sérias conseqüências, já visíveis e experienciadas no cotidiano viver do tempo que é hoje.
É possível mudar o rumo de nossos passos, Taylor afirma que sim apostando na autenticidade, quero ir além Taylor, e para tal discussão faço uso da poesia de Robert Frost:
A estrada não trilhada
Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia...
Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.
E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.
Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.
Qual é enfim a estrada que almejamos trilhar, sermos autênticos é válido e necessário, mas não basta, é preciso mais...
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